Alberto Moreira Ferreira

Poemas do Mosto e da Chuva, Textos de Alberto Moreira Ferreira
Em cada barco, por cada mordidela de bode ou cabra há uma arrumação, por cada dentada um metro de pano de lençol é acumulado no guarda fatos, são mais graves as feridas quando vêm de cidades navegantes ao cheiro de púrpura como flores de sal e anelídeos aquáticos esmagando silenciosamente as sombras que beijam como vindimas precipitando o que nasce nos campos, a erva que vem do mar em dias amarelejados entre a alvura e o sargaço dos cabelos em que não ouves mais que a vontade do impulso ditado pelo sopro desfeito na pedra da tua mão mutilada
A vida inteira nasce do vinho que bebes e dás a beber, se beberes e deres a beber um mar de areia ele inclina-se sobre ele a última esperança dará à costa um dedo pútrido e tu continuarás com os pés na soleira da porta de saída sem entender as pérolas e perde-se a réstia do dia nas tuas mãos desejosas de afastar a distância observando a lápide de terra batida com flores secas dentro do perímetro dos teus olhos
A solidão é como a noite de tempestade granizo ventos trovões em que te silencias profundamente no mais íntimo lençol, pensas beijar a corda a envolver-te o pescoço 
Eu bebia o vinho e dormia cantava e cantava muito, para quê saltar do banco se as cordas não morrem connosco, sabes bem que nos céus raramente há algo mais que máquinas registradoras, de calcular, de colar lamber... Eu bebia o vinho dormia cantava muito e libertava a origem do quinto sinal vital na música, faria uma viola já que as mãos foram de avião todas à lua
Cumprimentar outro dia não é morrer com ele, é cheirar a terra e desarrumar o poema, incêndios vento calor sangue raízes e dizer não com alvura, e sim, o grau de penetração é profundo, eu guindaste vou fundo